12.2.07

 

A magia dos transportes públicos

Porque o destino assim o quis, e nem o seguro nem o concessionário me deram uma viatura de substituição, hoje andei de transportes públicos.

Na realidade ultimamente tenho usado o combóio e o metro algumas vezes mas não em horas mais tardias e já nem me lembrava da sensação.

Apanhei o autocarro e pedi o bilhete que custou €:1,70 (barato!!!), ainda eu estava a tirar moedas e já a porta estava fechada e aquilo aos solavancos, paguei, guardei troco, piquei bilhete após várias tentativa para acertar na ranhura e equilibrar-me ao mesmo tempo.
Sentei-me logo ali nos bancos de 4.
Como não tinha nada para fazer fui olhando para tudo, para as luzes todas na cabine do motorista, para as costas do motorista, e reparei no auricular e imaginei-o numa chamada telefónica. Era um moço jovem portanto deve receber uma chamadita ou outra durante as viagens, ou não usaria o auricular, pus-me a imaginá-lo ao telefone com a namorada, e ri-me sózinha.
Vi todas as vezes que os passageiros tocaram na campainha, e fiquei danada por ir mesmo para a última paragem e não ter o gostinho de tocar, agarrar-me ao varão em perfeito teste de equilibrio, para ver o PARAR a piscar e a porta a abrir.
Continuava a viagem calma e tranquila e reparei, por acaso não foi do meu lado mas sim no do banco oposto ao meu, no aviso de LUGARES RESERVADOS a: deficientes fisicos, grávidas e acompanhantes de crianças de colo.
Nunca tinha pensado no assunto mas hoje ao ler o aviso ocorreu-me: quem são os deficientes que andam de autocarro? porque, por favor, aqueles lugares não são nada acessiveis a deficientes e nem tão pouco o acesso para o autocarro, e ocorreu-me também se o rapazinho motorista quando entra um passageiro deficiente no autocarro o coloca logo em marcha antes mesmo do dito ter tempo de se sentar. Se sim, porque não esperou ele que eu obliterasse o meu titulo de transporte válido? Ok, eu não sou defeciente mas não sou passageira assídua, levava o meu portátil e mais a mala (que de senhora costuma ser pesada) portanto era uma passageira carregada e ainda por cima inexperiente, ele devia ter esperado.
A viagem lá chegou ao terminus e saí.
Fui para o combóio e comprei o bilhete, €: 1,20 (por 10 min de viagem sem uma única paragem, não se admite, ainda se parasse em todas...). Sentei-me sózinha à janela e comecei a apagar os contactos repetidos no telemóvel. Nisto começo a ouvir uma voz a falar, primeiro achei que era o revisor e procurei o bilhete para o ter à mão mas rapidamente percebi que não e então pareceu-me uma daquelas lenga-lengas dos pedintes, procurei na carteira moedas que nestas horas e por falta de hábito começo logo a sentir-me mal se não dou, e claro que entretanto vejo que afinal não é nada disto, é um tipo com um aspecto duvidoso a passar e a falar ao telemóvel. Andou em direcção à porta que separa as duas carruagens e eu desliguei a minha atenção do sujeito. Por pouco tempo. Com tanto lugar vago e mais ainda a próxima carruagem, porque raio de carga d'água veio aquela alminha sentar-se ao meu lado?
Bom, senta-se, e começa:
"suas putas, querem abortar deviam era morrer, querem fazer mas depois matam-nos, morte a dobrar para quem mata, e vida em dobro para quem deixa viver, suas vacas, putas d'um cabrão"
Bom, o chorrilho foi assim mais ou menos, com mais umas asneiras daquelas de encher a boca e tal. Depois abriu uma revista de saúde das que são distribuidas na farmácia e começa:
"esta deram-me na farmácia, eu até vou lá só para ver a doutora da farmácia, amo-a, e a minha médica também, é mesmo boa, ainda agora estava a falar com ela ao telemóvel e foi ela que me ligou, é mesmo boa, a puta da advogada é que não prestava, toma (e levanta o dedo médio) disto é que tu querias mas foste corrida"
Eu continuei a olhar para o telemóvel e a pensar "de onde me saiu este agora? se arrumo o telefone ele vai de certeza falar para mim", mas conforme o pensei assim ele o fez.
"tenho ou não razão? hã? diga lá"
Olhei de lado, esbocei um sorrisinho à espera que ficasse por ali mesmo, mas não.
"é bem bonita você, tem o quê? 24 anos? podia ser minha fila, eu tenho 39 e tenho um filho com 19 anos, está com a mãe, nunca mais o vi, meti-me nesta merda da droga e agora estou outra vez, mas eu não era assim, tá a ouvir?"
Eu olhei pela janela e vi q estava em Sto Amaro, meti o telefone na mala, agarrei no portátil e pedi licença.
"já estamos a chegar a Oeiras? a minha mãe é mestiça, linda, o meu pai era oficial, o meu irmão é engenheiro de máquinas, a minha cunhada é assintente social, só eu é que sou um drÓgado"
Isto foi-me ele contando enquanto ía andando para a porta do combóio.

Ufff. Retiro o que disse AQUI.

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