31.7.09

 

INVERNO

Era madrugada, já.
Só se ouvia o crepitar do fogo na lareira que num esforço imenso tentava aquecer a sala.
O silêncio era ensurdecedor, apenas quebrado pelo som da nossa respiração.
Suspirei.
Os nossos olhares cruzaram-se no vazio que se abria entre nós. A minha boca abriu-se num esgar, mas as palavras morreram-me nos lábios.
Deixei-me escorregar pelo sofá.
Foste até junto do fogo, em movimentos lentos e compassados.
Olhaste para mim, calmamente vieste na minha direcção.
Fechei os olhos e imaginei as tuas mãos a percorrerem o meu corpo, tacteando, os teus lábios grossos, quentes, colados aos meus.
Passaste ao meu lado e continuaste a andar.
Inspirei profundamente, tentando acalmar o crescendo de agonia e pânico.
O silêncio foi quebrado.
“Os contos tristes preferem o Inverno.”
Era uma despedida.





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