Momentos só meus

Fui roubar este post aqui (devidamente autorizado) porque faz falta a muita gente.

Gostaria de voltar a falar acerca de violência doméstica, não só da física, mas também da psicológica. Neste preciso momento, muitas pessoas estão a sofrer nos seus lares, o horror da agressão verbal e física e por estarem tão fragilizadas, chegam a pensar que elas é que são as culpadas pelo o mau ambiente que se vive em casa. Por ter conhecimento de muitos casos do género, quero hoje através deste post e a si que me lê dizer-lhe que a culpa não é sua! Nada justifica uma vida de ameaças, nada justifica que lhe batam, nada justifica que alguém o destrua como ser humano! Quem faz isso é que deve estar doente e a precisar de internamento, se não for de prisão. A nossa vida é muito preciosa!

Existe um perfil para o agressor. Normalmente são pessoas muito educadas e charmosas em público, mas na intimidade são cruéis e más. Recorrem ao desprezo para "enlouquecer" o/a companheiro(a) e assim que este se manifesta quer através de choro, ou gritos de angústia passam à humilhação quer verbal, quer física. Isto acontece porque há uma intenção de desacreditar o outro. Ninguém vai acreditar que uma pessoa tão educada possa cometer tais actos, já o "histérico" da história é que deve estar a exagerar e a viver mais "uma crise" das suas! Chama-se a isto requintes de malvadez!

Quem faz isto, não ama! Você não nasceu para ter que adivinhar se o seu companheiro está mal disposto, ou bem disposto quando chega do trabalho, para depois saber como agir e lidar com ele, (ou ela)! Pense também que se acatar as ameaças e não tomar uma atitude, irá consentir que os seus filhos cresçam com uma imagem completamente distorcida do que é um ambiente familiar saudável e uma relação a dois, o que irá influenciar fortemente as escolhas deles, no futuro. Ninguém tem o direito de privar um ser humano de ser feliz! Gostava que um dia alguém tratasse os seus filhos da mesma maneira como tem tratado a pessoa que está ao seu lado? É que pode acontecer! Afinal de contas a sua esposa, ou o seu marido, também são filhos de alguém, não é?

Nunca se cale perante a agressão. Conte a alguém se necessário for, à policia, mas nunca se cale e não tema as ameaças de um doente, porque é isto que um agressor é, um doente! E a melhor maneira de o parar é denunciando.

Quando se trata de violência doméstica entre o casal, é importante sublinhar que nem sempre começa logo com um estalo, ou um empurrão. Há casos em que uma das partes é imediatamente surpreendida após o casamento com um valente estaladão, mas na maioria das vezes começa com o desprezo. O desprezo é a maneira mais eficaz de começar a destruir a auto estima da outra pessoa, de modo a que esta sinta que não tem valor.

Técnicas de desprezo:

• 
  
  Entrar diariamente em casa de mau humor e deixar bem claro que não está para conversas. A mínima pergunta que lhe façam respondem de forma rude e debochada: "Eu não disse que estou cansado(a)". O mau humor, (que desaparece se alguém telefona ou bate à porta) é uma estratégia de intimidação.
• 
  Proibir a autenticidade da outra pessoa. Começa com proibições ao nível do vestuário e cuidados básicos de higiene e beleza. Muitos homens proíbem as esposas de se maquilharem, ou de usarem joalharia. Sei do caso de uma senhora que chegou a proibir o marido de usar perfume e apontava os quilometros do carro!!! Depois estende-se aos hobbies e gostos pessoais. Tudo o que a outra pessoa gosta é "ridículo"! A ideia é matar a identidade de modo a que se sinta cada vez mais dependente do seu agressor.
• 
  À medida que a pessoa vai estando cada vez mais dominada, podem surgir frases do género: "Endoideceste e precisas de ajuda!", "Não tens capacidade para educar os nossos filhos, qualquer tribunal vê que és histérica(o)", "És mentirosa(o) compulsiva(o) e toda a gente sabe disso", etc. A "técnica" do "toda a gente" é para vincar ainda mais a "inferioridade e incapacidade" da vítima. Mas afinal quem é toda a gente? Não é ninguém, só mesmo o agressor e os seus demónios.
• 
  "Eu é que sou o homem, tens que me obedecer?". Não há muito tempo vi um fulano sair-se com esta num programa de televisão, ao qual o apresentador respondeu assim: "E quem é que o pôs a mandar?". Muitos homens, ainda que não tenham fé nenhuma, gostam de ir à Bíblia buscar o versículo que diz que o homem é o cabeça da família, só é pena não lerem o resto que diz que se o homem é a cabeça, a mulher é a coroa! Ou seja, é a mulher que lhe dá honra, cabeça sem coroa é povo! O homem só é "chefe" porque um dia uma mulher lhe olhou para cara e lhe deu valor, caso contrário ainda estava com os paizinhos. Depois esta questão de chefia também é mais simbólica que outra coisa na medida em que o apóstolo Paulo estava a ilustrar que o casamento é a expressão física do significado da Igreja. Jesus é o noivo e a Igreja a noiva. Jesus o cabeça, papel que é representado pelo homem e a Igreja é representada pela mulher. Não nos podemos esquecer que Jesus deu a sua vida pela Igreja. Além disso, e na sequência do mesmo texto, a bíblia ainda diz que "ao homem que maltrata a sua esposa, as suas orações também não serão ouvidas". Provérbios também diz: "Aquele que acha uma mulher acha uma coisa boa e alcançou a benevolência do Senhor". Não há fundamento bíblico nenhum para o machismo, nem para a violência doméstica. Infelizmente as pessoas só vão buscar os versículos que lhes convém e aplicam-nos fora de contexto para darem largas aos seus devaneios. É pena que não se lembrem do "ama o teu próximo como a ti mesmo"! Esse já parece não interessar muito! Quando homens e mulheres são normais, entendem estas coisas, mas por causa de alguns "frustrados e frustradas da vida" que andam por ai, é que muita gente até tem medo de abrir as escrituras. Não há fundamento bíblico, nem social, nem psicológico para a aniquilação da pessoa que está ao nosso lado.
• 
  Mandar calar constantemente: "Vê lá se te calas!", "Cala-te e vai para outra divisão!", "Só dizes porcaria!", "Faz um favor à humanidade e não fales!", "Já viste que toda a gente acha que não dizes nada de jeito?", "Espera, espera, vais falar? Aguenta-te ok, aguenta-te!".
  Outra estratégia é começar a dizer que tem que adoptar esta atitude porque o outro é uma maldição, que na verdade até devia reconhecer que o agressor sempre teve razão e que se lhe tivesse dado ouvidos, hoje ambos poderiam ter uma vida melhor: "Tu és a maldição da minha vida!". A minha pergunta é, se sente que está assim tão amaldiçoado(a), porque é que não liberta a pessoa de vez?
• 
  Quando os agressores são eles, também implicam com a limpeza da casa, com a comida, com a roupa que não está passada, com o modo como veste e alimenta os seus filhos, etc. Quando as agressoras são elas, a embirração tem mais a ver com os relacionamentos e aparência do companheiro. Há porém um aspecto comum para ambos os casos que é o isolamento da vítima. Desligá-la dos seus amigos, familiares e se possível até dos colegas de trabalho.

Noutro post falarei dos sinais de um potencial agressor durante o namoro. Como detectar e identificar os sinais, por trás da euforia da paixão?

**(Para saberem mais terão que consultar a Daniela)