31.8.06

 

A lingua portuguesa é um mundo

Já tive o péssimo hábito, e digo péssimo porque era impulsivo e descontrolado, de corrigir os erros dos outros.
Diziam qualquer coisa mal e, imediatamente e sem reflectir ou pensar que poderia estar a ferir o outro, eu corrigia.
Fiz isso durante tempos e tempos, havia os que aceitavam com humildade, os que aceitavam com um sorriso amarelo, outros que protestavam silenciosamente, os que para me irritar ainda faziam pior, repetindo sempre mal até eu me "passar", e os que se "passavam" mesmo e me diziam duas ou três das boas.
Claro que com o tempo fui-me controlando e hoje já o faço muito raramente, apenas com um grupo restrito de pessoas.
Não ensurdeci, nem treinei o ouvido para não ouvir ou prestar atenção a todos os disparates que saiem da boca de algumas pessoas, treinei foi a rapidez com que a correcção me saía da boca.
Claro que agora em vez de corrigir tomo nota mentalmente do disparate para depois o partilhar com a mana S. que tão bem me compreende e com quem eu me posso rir destas coisas, e vice-versa.
Por vezes tenho que me rir, ou melhor sorrir, como quem está a tomar atenção à conversa, discretamente para que não se pense que estou a gozar com algo.
Nem sempre consigo, é-me humanamente impossível, principalmente quando o disparate flui, e também quando a mana está comigo, e acabo a rir à gargalhada. Já aconteceu, e temos que disfarçar com qualquer coisa.
Acontece principalmente no cabeleireiro. Não tenho nada contra cabeleireiras, nem as acho menos cultas, nada disso, simplesmente passamos lá algumas horas seguidas e são tantas senhoras e senhores juntos que é natural que uma ou outra seja mais fértil num português que até é bastante usual.
Mas não é só no cabeleireiro.
Também há nos cafés, restaurantes, lojas, escritórios, empregados, patrões, gerentes, e afins. Não há predominância numa determinada classe, ou em algum estatuto, nem grupo profissional ou cultural. Não, pelo contrário, eles andem aí, e sem serem fáceis de identificar, por vezes sou surpreendida, são muito fáceis de encontrar.
O que me levou a desabafar sobre o tema foi uma palavrinha proferida por uma certa pessoa de quem eu não estava nada à espera de ouvir (lá está, no melhor pano cai a nódoa) e portanto passo a partilhar:
"não, não, isso não tem qualquer significação" entretanto deve ter percebido, ou soou mal, que a palavra não estava muito bem e corrige imediatamente "significancia, se fosse em 1ª linha e com varanda eram mais 150 no mínimo".
Fiquei deveras feliz porque a pessoa se apercebeu na hora que tinha dito qualquer coisa esquisita. Quanto ao resto ...
Bom! já foi um passo de gigante o reconhecimento do disparate.

Comments:
eu também sofro com isso! ainda estou naquela fase em que não consigo gozar... a mim doí-me cada vez que oiço um fostes ou um trázi-o.
até já falei disso no meu cantinho: http://areiagrossa.blogspot.com/2006/06/homenagem-sentida.html
 
perfeccionista
 
Acho que a todos nos já aconteceu sairem disparates.
 
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